sexta-feira, 25 de março de 2011

..Elogios..


Aquela sua amiga vem trabalhar com uma camisa linda. Seu vizinho comprou um carro novo. O colega fez um bom trabalho. Em todas essas circunstâncias cabe um elogio, certo!? Mas, e se, mesmo sendo sincero, seu elogio começar a ser recebido com desconfiança?

Por costume, por educação e até graças a um conselho de um amigo, há anos venho cultivando o hábito – que hoje já virou quase que automático – de elogiar as pessoas. É uma roupa, um talento, uma fala... qualquer coisa que me salte aos olhos ganha um pronto – ou tardio – elogio. Iniciei essa prática quando, sendo professora de inglês, percebi quão impressionantes resultados um elogio podia produzir. Aí, comecei a incorporar esse hábito ao meu dia a dia e hoje, às vezes, sinto até que preciso maneirar na dose. Por que? Porque percebo que, de vez em quando, os elogiados sentem-se desconfortáveis com os predicados os quais atribuo a eles. Talvez pensem que seja algo como 'puxa-saquismo' ou mesmo 'falsidade'.

É estranho pensar que uma coisa tão sincera e boa possa causar tão desagradável reação – e, vejam bem, não estou me excluindo do grupo que esporadicamente recebe um elogio com receio. Mas, a meu ver, tudo isso não passa de mais um reflexo da 'modernidade'. Hoje todos estamos tão acostumados a nos fecharmos em nossos casulos – um computador, um carro, food delivery – e com tanto medo de sermos invadidos ou enganados que, quando alguém se sente suficientemente próximo para ter a liberdade de nos elogiar, nós simplesmente desconfiamos da falta de interesse ou da integridade do caráter da pessoa. A verdade é um artigo em extinção e talvez sempre tenha sido, mas hoje em dia, com toda essa individualização, com toda essa inversão de valores – ê senso comum! - essa constatação é cada vez mais clara e, infelizmente, cada vez mais banal.

Mas eu não vou ficar medindo minhas boas atitudes em detrimento de uma torpe realidade. Vou elogiar, sim, porque eu é que sei da minha consciência e estou tranquila com ela! Façamos todos o mesmo e talvez – a esperança é a última que morre – possamos reverter tudo isso.

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